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28 de abril de 2016

On quinta-feira, abril 28, 2016 by PeJose

Cidade do Vaticano (RV) - Amoris laetitia” (AL - “A alegria do amor”), aExortação apostólica pós-sinodal “sobre o amor na família”, datada não por acaso de 19 de março, Solenidade de S. José, recolhe os resultados de dois Sínodos sobre a família convocados pelo Papa Francisco em 2014 e 2015, cujas Relações conclusivas são abundantemente citadas, juntamente com documentos e ensinamentos dos seus Predecessores e as numerosas catequeses sobre a família do próprio Papa Francisco. Contudo, como já sucedeu noutros documentos magisteriais, o Papa recorre também a contributos de diversas Conferências episcopais de todo o mundo (Quênia, Austrália, Argentina...) e a citações de personalidades de relevo, como Martin Luther King ou Erich Fromm. Ressalta em particular uma citação do filme “A Festa de Babette”, que o Papa recorda para explicar o conceito de gratuitidade.
Premissa
A Exortação apostólica chama a atenção pela sua amplitude e articulação. Está dividida em nove capítulos e mais de 300 parágrafos. Tem início com sete parágrafos introdutórios que evidenciam a plena consciência da complexidade do tema, que requer ser aprofundado. Afirma-se que as intervenções dos Padres no Sínodo constituíram um «precioso poliedro» (AL 4) que deve ser preservado. Neste sentido, o Papa escreve que «nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais». Por conseguinte, para algumas questões «em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais. De facto,“as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral (...), se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado”» (AL 3). Este princípio de inculturação revela-se como muito importante até no modo de articular e compreender os problemas, modo esse que, sem entrar nas questões dogmáticas bem definidas pelo Magistério da Igreja, não pode ser «globalizado».
Mas sobretudo o Papa afirma de imediato e com clareza que é necessário sair da estéril contraposição entre a ânsia de mudança e a aplicação pura e simples de normas abstratas. Escreve: «Os debates, que têm lugar nos meios de comunicação ou em publicações e mesmo entre ministros da Igreja, estendem-se desde o desejo desenfreado de mudar tudo sem suficiente reflexão ou fundamentação até à atitude que pretende resolver tudo através da aplicação de normas gerais ou deduzindo conclusões excessivas de algumas reflexões teológicas» (AL 2).
Capítulo primeiro: “À luz da Palavra”
Enunciadas estas premissas, o Papa articula a sua reflexão a partir das Sagradas Escrituras no primeiro capítulo, que se desenvolve como uma meditação acerca do Salmo 128, característico da liturgia nupcial hebraica, assim como da cristã. A Bíblia «aparece cheia de famílias, gerações, histórias de amor e de crises familiares» (AL 8) e a partir deste dado pode meditar-se como a família não é um ideal abstrato, mas uma «tarefa “artesanal”» (AL 16) que se exprime com ternura (AL 28), mas que se viu confrontada desde o início também pelo pecado, quando a relação de amor se transformou em domínio (cf. AL 19). Então, a Palavra de Deus «não se apresenta como uma sequência de teses abstratas, mas como uma companheira de viagem, mesmo para as famílias que estão em crise ou imersas nalguma tribulação, mostrando-lhes a meta do caminho» (AL 22).
Capítulo segundo: “A realidade e os desafios das famílias”
Partindo do terreno bíblico, o Papa considera no segundo capítulo a situação atual das famílias, mantendo «os pés assentes na terra» (AL 6), bebendo com abundância das Relações conclusivas dos dois Sínodo se enfrentando numerosos desafios, desde o fenômeno migratório à negação ideológica da diferença de sexo («ideologia de gênero»); da cultura do provisório à mentalidade anti-natalidade e ao impacto das biotecnologias no campo da procriação; da falta de habitação e de trabalho à pornografia e ao abuso de menores; da atenção às pessoas com deficiência ao respeito pelos idosos; da desconstrução jurídica da família à violência para com as mulheres. O Papa insiste no carácter concreto, que é um elemento fundamental da Exortação. E é este carácter concreto e realista que estabelece uma diferença substancial entre «teorias» de interpretação da realidade e «ideologias».
Citando a Familiaris consortio, Francisco afirma que «é salutar prestar atenção à realidade concreta, porque “os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história” através dos quais “a Igreja pode ser guiada para uma compreensão mais profundado inexaurível mistério do matrimônio e da família”» (AL 31). Sem escutar a realidade não é possível compreender nem as exigências do presente nem os apelos do Espírito. O Papa nota que o individualismo exacerbado torna hoje difícil a doação a uma outra pessoa de uma maneira generosa (cf. AL 33). Eis um interessante retrato da situação: «Teme-se a solidão, deseja-se um espaço de proteção e fidelidade mas, ao mesmo tempo, cresce o medo de ficar encurralado numa relação que possa adiar a satisfação das aspirações pessoais» (AL 34).
A humildade do realismo ajuda a não apresentar «um ideal teológico do matrimônio demasiado abstrato, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas das famílias tais como são» (AL 36). O idealismo não permite considerar o matrimônio assim como é, ou seja, «um caminho dinâmico de crescimento e realização». Por isso, também não se pode julgar que se possa apoiar as famílias «com a simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura à graça» (AL 37). Convidando a uma certa “autocrítica” de uma apresentação não adequada da realidade matrimonial e familiar, o Papa insiste na necessidade de dar espaço à formação da consciência dos fiéis: «Somos chamados aformar as consciências, não a pretender substituí-las» (AL37). Jesus propunha um ideal exigente, mas «não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera» (AL 38).
Capítulo terceiro: “O olhar fixo em Jesus: a vocação da família”
O terceiro capítulo é dedicado a alguns elementos essenciais do ensinamento da Igreja acerca do matrimônio e da família. É importante a presença deste capítulo, porque ilustra de uma maneira sintética em 30 parágrafos a vocação à família de acordo com o Evangelho, assim como ela foi recebida pela Igreja ao longo do tempo, sobretudo quanto ao tema da indissolubilidade, da sacramentalidade do matrimônio, da transmissão da vida e da educação dos filhos. Fazem-se inúmeras citações da Gaudium et spes do Vaticano II, daHumanae vitae de Paulo VI, da Familiaris consortio de João Paulo II. 
O olhar é amplo e inclui também as «situações imperfeitas». Com efeito, lemos: «“O discernimento da presença das semina Verbi nas outras culturas (cf. Ad gentes, 11) pode-se aplicar também à realidade matrimonial e familiar. Para além do verdadeiro matrimônio natural, há elementos positivos também nas formas matrimoniais doutras tradições religiosas”, embora não faltem também as sombras» (AL 77). A reflexão inclui ainda as «famílias feridas», a propósito das quais o Papa afirma - citando a Relatio finalis do Sínodo de 2015 —«é preciso lembrar sempre um princípio geral: “Saibam os pastores que, por amor à verdade, estão obrigados a discernir bem as situações” (Familiaris consortio, 84). O grau de responsabilidade não é igual em todos os casos, e podem existir fatores que limitem a capacidade de decisão. Por isso, ao mesmo tempo que se exprime com clareza adoutrina, há que evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diferentes situações,e é preciso estar atentos ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição» (AL 79).
Capítulo quarto: “O amor no matrimónio”
O quarto capítulo trata do amor no matrimônio e ilustra-o a partir do “hino ao amor” de São Paulo de 1 Cor 13, 4-7. O capítulo é uma verdadeira e autêntica exegese cuidadosa, precisa, inspirada e poética do texto paulino. Poderemos dizer que se trata de uma coleção de fragmentos de um discurso amoroso que cuida de descrever o amor humano em termos absolutamente concretos. Surpreende-nos a capacidade de introspeção psicológica evidenciada por esta exegese. O aprofundamento psicológico chega ao mundo das emoções dos cônjuges - positivas e negativas - e à dimensão erótica do amor.Este é um contributo extremamente rico e precioso para a vida cristã dos cônjuges, que não tinha até agora paralelo em anteriores documentos papais.
À sua maneira, este capítulo constitui um pequeno tratado no conjunto de um desenvolvimento mais amplo, plenamente consciente do carácter quotidiano do amor que se opõe a todos os idealismos: «não se deve atirar para cima de duas pessoas limitadas o peso tremendo de ter que reproduzir perfeitamente a união que existe entre Cristo e a sua Igreja, porque o matrimônio como sinal implica “um processo dinâmico, que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus”» (AL 122). Mas, por outro lado, o Papa insiste de modo enérgico e firme no facto de que «na própria natureza do amor conjugal, existe a abertura ao definitivo» (AL 123) precisamente no íntimo daquela «combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres» (Al 126) que é de facto o matrimônio.
O capítulo conclui-se com uma reflexão muito importante acerca da «transformação do amor» uma vez que «o alongamento da vida provocou algo que não era comum noutros tempos: a relação íntima e a mútua pertença devem ser mantidas durante quatro, cinco ou seis décadas, e isto gera a necessidade de renovar repetidas vezes a recíproca escolha» (AL 163). A aparência física transforma-se e a atração amorosa não desaparece, mas muda: com o tempo, o desejo sexual pode transformar-se em desejo de intimidade e «cumplicidade». «Não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade» (AL 163).
Capítulo quinto: “O amor que se torna fecundo”
O quinto capítulo centra-se por completo na fecundidade e no carácter gerador do amor. Fala-se de uma maneira espiritualmente e psicologicamente profunda do acolher uma nova vida, da espera própria da gravidez, do amor de mãe e de pai. Mas também da fecundidade alargada, da adoção, do acolhimento do contributo das famílias para a promoção de uma “cultura do encontro”, da vida na família em sentido amplo, com a presença de tios, primos, parentes dos parentes, amigos. A Amoris laetitia não toma em consideração a família «mononuclear», mas está bem consciente da família como rede de relações alargadas. A própria mística do sacramento do matrimônio tem um profundo carácter social (cf. AL 186). E no âmbito desta dimensão social, o Papa sublinha em particular tanto o papel específico da relação entre jovens e idosos, como a relação entre irmãos como aprendizagem de crescimento na relação com os outros.
Capítulo sexto: “Algumas perspetivas pastorais”
No sexto capítulo, o Papa aborda algumas vias pastorais que orientam para a edificação de famílias sólidas e fecundas de acordo com o plano de Deus. Nesta parte, a Exortação recorre às Relações conclusivas dos dois Sínodos e às catequeses do Papa Francisco e de João Paulo II. Volta-se a sublinhar que as famílias são sujeito e não apenas objeto de evangelização. O Papa observa que «os ministros ordenados carecem, habitualmente, de formação adequada para tratar dos complexos problemas atuais das famílias» (AL 202). Se, por um lado, é necessário melhorar a formação psicoafetiva dos seminaristas e envolver mais a família na formação para o ministério (cf. AL 203), por outro «pode ser útil também a experiência da longa tradição oriental dos sacerdotes casados» (AL 202).
Em seguida, o Papa desenvolve o tema da orientação dos noivos no caminho de preparação para o matrimônio, do acompanhamento dos esposos nos primeiros anos da vida matrimonial (incluindo o tema da paternidade responsável), mas também em algumas situações complexas e, em particular, nas crises, sabendo que «cada crise esconde uma boa notícia, que é preciso saber escutar, afinando os ouvidos do coração» (AL 232). São analisadas algumas causas de crise, entre elas uma maturação afetiva retardada (cf. AL 239).
Além disso, fala-se também do acompanhamento das pessoas abandonadas, separadas ou divorciadas e sublinha-se a importância da recente reforma dos procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade matrimonial. Coloca-se em relevo o sofrimento dos filhos nas situações de conflito e conclui-se: «O divórcio é um mal, e é muito preocupante o aumento do número de divórcios. Por isso, sem dúvida, a nossa tarefa pastoral mais importante relativamente às famílias é reforçar o amor e ajudar a curar as feridas, para podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo» (AL 246). Referem-se de seguida as situações dos matrimônios mistos e daqueles com disparidade de culto, e a situação das famílias que têm dentro de si pessoas com tendência homossexual, insistindo no respeito para com elas e na recusa de qualquer discriminação injusta e de todas das formas de agressão e violência. A parte final do capítulo, «quando a morte crava o seu aguilhão», é de grande valor pastoral, tocando o tema da perda das pessoas queridas e da viuvez.
Capítulo sétimo: “Reforçar a educação dos filhos”
O sétimo capítulo é totalmente dedicado à educação dos filhos: a sua formação ética, o valor da sanção como estímulo, o realismo paciente, a educação sexual, a transmissão da fé e, mais em geral, a vida familiar como contexto educativo. É interessante a sabedoria prática que transparece em cada parágrafo e sobretudo a atenção à gradualidade e aos pequenos passos que «possam ser compreendidos, aceites e apreciados» (AL 271).
Há um parágrafo particularmente significativo e de um valor pedagógico fundamental em que Francisco afirma com clareza que «a obsessão (...) não é educativa; e também não é possível ter o controle de todas as situações onde um filho poderá chegar a encontrar-se (...). Se um progenitor está obcecado com saber onde está o seu filho e controlar todos os seus movimentos, procurará apenas dominar o seu espaço. Mas, desta forma, não o educará, não o reforçará, não o preparará para enfrentar os desafios. O que interessa acima de tudo é gerar no filho, com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de preparação, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia» (AL 261).
A secção dedicada à educação sexual é notável, e intitula-se muito expressivamente: «Sim à educação sexual». Sustenta-se a sua necessidade e formula-se a interrogação de saber «se as nossas instituições educativas assumiram este desafio (…) num tempo em que se tende a banalizar e empobrecer a sexualidade». A educação sexual deve ser realizada«no contexto duma educação para o amor, para a doação mútua» (AL 280). É feita uma advertência em relação à expressão «sexo seguro», pois transmite«uma atitude negativa a respeito da finalidade procriadora natural da sexualidade, como se um possível filho fosse um inimigo de que é preciso proteger-se. Deste modo promove-se a agressividade narcisista, em vez do acolhimento» (AL 283).
Capítulo oitavo: “Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”
O capítulo oitavo representa um convite à misericórdia e ao discernimento pastoral diante de situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor propõe. O Papa usa aqui três verbos muito importantes: «acompanhar, discernir e integrar», os quais são fundamentais para responder a situações de fragilidade, complexas ou irregulares. Em seguida, apresenta a necessária gradualidade na pastoral, a importância do discernimento, as normas e circunstâncias atenuantes no discernimento pastoral e, por fim, aquela que é por ele definida como a «lógica da misericórdia pastoral».
O oitavo capítulo é muito delicado. Na sua leitura deve recordar-se que «muitas vezes, o trabalho da Igreja é semelhante ao de um hospital de campanha» (AL 291). O Pontífice assume aqui aquilo que foi fruto da reflexão do Sínodo acerca de temáticas controversas. Reforça-se o que é o matrimônio cristão e acrescenta-se que «algumas formas de união contradizem radicalmente este ideal, enquanto outras o realizam pelo menos de forma parcial e analógica». Por conseguinte, «a Igreja não deixa de valorizar os elementos construtivos nas situações que ainda não correspondem ou já não correspondem à sua doutrina sobre o matrimônio» (AL 292).
No que respeita ao «discernimento» acerca das situações «irregulares», o Papa observa: «temos de evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diversas situações e é necessário estar atentos ao modo em que as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição» (AL 296). E continua: «Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto duma misericórdia “imerecida, incondicional e gratuita”»(AL 297). E ainda: «Os divorciados que vivem numa nova união, por exemplo, podem encontrar-se em situações muito diferentes, que não devem ser catalogadas ou encerradas em afirmações demasiado rígidas, sem deixar espaço para um adequado discernimento pessoal e pastoral» (AL 298).
Nesta linha, acolhendo as observações de muitos Padres sinodais , o Papa afirma que «os batizados que se divorciaram e voltaram a casar civilmente devem ser mais integrados na comunidade cristã sob as diferentes formas possíveis, evitando toda a ocasião de escândalo». «A sua participação pode exprimir-se em diferentes serviços eclesiais (…).Não devem sentir-se excomungados, mas podem viver e maturar como membros vivos da Igreja (…). Esta integração é necessária também para o cuidado e a educação cristã dos seus filhos» (AL 299).
Mais em geral, o Papa profere uma afirmação extremamente importante para que se compreenda a orientação e o sentido da Exortação: «Se se tiver em conta a variedade inumerável de situações concretas (…) é compreensível que se não devia esperar do Sínodo ou desta Exortação uma nova normativa geral de tipo canônico, aplicável a todos os casos. É possível apenas um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral dos casos particulares, que deveria reconhecer: uma vez que “o grau de responsabilidade não é igual em todos os casos”, as consequências ou efeitos duma norma não devem necessariamente ser sempre os mesmos» (AL 300). O Papa desenvolve em profundidade as exigências e características do caminho de acompanhamento e discernimento em diálogo profundo entre fiéis e pastores. A este propósito, faz apelo à reflexão da Igreja «sobre os condicionamentos e as circunstâncias atenuantes» no que respeita à imputabilidade das ações e, apoiando-se em S. Tomás de Aquino, detém-se na relação entre «as normas e o discernimento», afirmando: «É verdade que as normas gerais apresentam um bem que nunca se deve ignorar nem transcurar, mas, na sua formulação, não podem abarcar absolutamente todas as situações particulares. Ao mesmo tempo é preciso afirmar que, precisamente por esta razão, aquilo que faz parte dum discernimento prático duma situação particular não pode ser elevado à categoria de norma» (AL 304).
Na última secção do capítulo, «A lógica da misericórdia pastoral», o Papa Francisco, para evitar equívocos, reafirma com vigor: «A compreensão pelas situações excecionais não implica jamais esconder a luz do ideal mais pleno, nem propor menos de quanto Jesus oferece ao ser humano. Hoje, mais importante do que uma pastoral dos falimentos é o esforço pastoral para consolidar os matrimônio se assim evitar as ruturas» (AL 307). Mas o sentido abrangente do capítulo e do espírito que o Papa Francisco pretende imprimir à pastoral da Igreja encontra um resumo adequado nas palavras finais: «Convido os fiéis, que vivem situações complexas, a aproximar-se com confiança para falar com os seus pastores ou com leigos que vivem entregues ao Senhor. Nem sempre encontrarão neles uma confirmação das próprias ideias ou desejos, mas seguramente receberão uma luz que lhes permita compreender melhor o que está a acontecer e poderão descobrir um caminho de amadurecimento pessoal. E convido os pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero de entrar no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de vista, para ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja» (AL 312). Acerca da «lógica da misericórdia pastoral», o Papa Francisco afirma com força: «Às vezes custa-nos muito dar lugar, na pastoral, ao amor incondicional de Deus. Pomos tantas condições à misericórdia que a esvaziamos de sentido concreto e real significado, e esta é a pior maneira de aguar o Evangelho» (AL 311).
Capítulo nono: “Espiritualidade conjugal e familiar”
O nono capítulo é dedicado à espiritualidade conjugal e familiar, «feita de milhares de gestos reais e concretos» (AL 315). Diz-se com clareza que «aqueles que têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito, mas é um percurso de que o Senhor Se serve para os levar às alturas da união mística» (AL 316). Tudo, «os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição» (AL 317). Fala-se de seguida da oração à luz da Páscoa, da espiritualidade do amor exclusivo e livre diante do desafio e do desejo de envelhecer e gastar-se juntos, refletindo a fidelidade de Deus (cf. AL 319). E, por fim, a espiritualidade «da solicitude, da consolação e do estímulo». «Toda a vida da família é um “pastoreio” misericordioso. Cada um, cuidadosamente, desenha e escreve na vida do outro» (AL 322), escreve o Papa. «É uma experiência espiritual profunda contemplar cada ente querido com os olhos de Deus e reconhecer Cristo nele» (AL 323).
No parágrafo conclusivo,o Papa afirma: «Nenhuma família é uma realidade perfeita e confeccionada duma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar. (…). Todos somos chamados a manter viva a tensão para algo mais além de nós mesmos e dos nossos limites, e cada família deve viver neste estímulo constante. Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! (…). Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida» (AL 325).
A Exortação apostólica conclui-se com uma Oração à Sagrada Família (AL 325).
                                                             *  *  *
Como já se pode depreender a partir de um rápido exame dos seus conteúdos, a Exortação apostólica Amoris laetitia pretende reafirmar com força não o «ideal» da família, mas a sua realidade rica e complexa. Há nas suas páginas um olhar aberto, profundamente positivo, que se nutre não de abstrações ou projeções ideais, mas de uma atenção pastoral à realidade. O documento é uma leitura densa de motivos espirituais e de sabedoria prática útil a cada casal ou a pessoas que desejam construir uma família. Nota-se sobretudo que foi fruto de uma experiência concreta com pessoas que sabem a partir da experiência o que é a família e o viver juntos durante muitos anos. A Exortação fala de fato a linguagem da experiência e da esperança.
http://br.radiovaticana.va/news/2016/04/11/leia_a_s%C3%ADntese_da_exorta%C3%A7%C3%A3o_a_alegria_do_amor/1221179
On quinta-feira, abril 28, 2016 by PeJose
Exortação sobre a familia nos tempos atuais
 recolhe as conclusões de duas grandes assembleias de bispos do mundo.
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7. E as pessoas que não estão casadas? 
O documento também se dirige aos pais e mães sós, viúvos e viúvas, homens e mulheres solteiras. Toda pessoa é um filho ou uma filha; todos têm uma história familiar; todos provaram a alegria da família; todos conhecem alguém que passou situações difíceis e dolorosas.
8. Ter muitos ou poucos filhos?
O terceiro capítulo está dedicado a alguns elementos essenciais do ensinamento da Igreja sobre o casamento e a família. A resposta: Humanae Vitae e paternidade responsável (AL 68). São os esposos em diálogo e abertos à vontade de Deus que tomam a decisão (AL 222).
9. Qual é o maior desafio de Amoris laetitia?
O maior desafio é ler sem pressa e colocar em prática. Convida-nos a ser compreensivos frente a situações complexas e dolorosas. O Papa Francisco quer compaixão e não julgamentos. Amor pelos frágeis e descobrir a força da ternura (AL 308).
Ademais, explica: hoje, mais importante que uma pastoral dos fracassos, é o esforço pastoral para consolidar os casamentos e assim prevenir rupturas (AL 307).
“A alegria do amor” não é uma lista de regras ou condenações. Uma rápida leitura de seus conteúdos nos confirma que, quando o Papa Francisco fala de trabalho artesanal, ele o faz em referência à riqueza e à complexidade das relações familiares.
É um documento de esperança e de amor pela família como sinal de misericórdia.

fonte: http://pt.aleteia.org/2016/04/08/9-chaves-para-entender-o-documento-a-alegria-do-amor-do-papa-francisco/2/

26 de abril de 2016

On terça-feira, abril 26, 2016 by PeJose
Exortação sobre a família nos tempos atuais recolhe as conclusões de duas grandes assembleias de bispos do mundo.

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Amoris laetitia (AL), A alegria do amor: Sobre o amor na família, foi publicada hoje (8/4) pelo Vaticano em meio a uma imensa expectativa desde os sínodos sobre a família realizados em 2014 e 2015. Nesse documento, o Papa Francisco convida a compreender, acompanhar, integrar e ter os braços abertos para os que sofrem (AL 312).
Neste esperado documento pastoral, brilha o ‘Papa pároco’, que abra as portas do templo da misericórdia a todos. De fato, quem não é um filho, irmão, ou, no caso, pai ou mãe, avô ou avó, sem importar a situação ou o quão afastado possa se sentir da Igreja?
Trata-se de um hino ao amor que mescla tradição e coragem evangélica para lançar luz, nestes tempos difíceis, sobre a beleza da vida familiar, mas sempre com uma visão esperançosa na construção de um mundo onde ninguém se sinta sozinho (AL 321), e conciliadora, porque a família, afinal, é sonho de Deus.
Os simpatizantes de uma postura ou de outra, antes de lançar críticas gratuitas, têm diante de si um árduo trabalho de “discernimento” (palavra chave do texto), já que o documento recolhe os resultados de dois sínodos, cujas relações conclusivas são longamente citadas, junto aos documentos e ensinamentos de seus antecessores e as catequeses sobre a família, do próprio Francisco.
Neste sentido, o Papa afirma que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas com intervenções do magistério. Francisco não se apresenta como um pontífice com varinha mágica.
A seguir, apresentamos 9 questões chave do documento do Papa Francisco “A alegria do amor”. Logicamente, não temos a pretensão de abraçar todos os temas, ademais porque impressiona por sua amplitude (são 270 páginas).
Na introdução, o Papa convida a uma leitura meditada e sem pressa, para que as pessoas prestem atenção àquilo que mais corresponde às suas necessidades específicas.
A exortação Evangelii Gaudium e a encíclica Laudato Sí eram documentos com uma voz específica: a do Papa Francisco. Já este novo documento, Amoris Laetitia, aparece como um concerto pastoral, uma orquestra dirigida pelo Papa.
1. A quem o Papa se dirige com A alegria do amor
A todos os católicos e seus pastores. A Igreja faz um esforço para estar perto dos casais e dos pais de família na educação dos filhos. O primeiro capítulo dá destaque ao Evangelho. A Bíblia está povoada de famílias, de gerações, de histórias de amor e de crises familiares (AL 8). A família não é um ideal, mas um trabalho artesanal (AL 16).
2. O que se diz sobre a comunhão para os divorciados que vivem numa nova união?
A mensagem do Papa é de que não há receitas. Por quê? Porque cada caso é único e merece atenção personalizada.
Os divorciados que vivem numa nova união e os casais que vivem junto sem se casar são convidados à Igreja, a entrar em diálogo com o pároco e com o bispo. A partir daí se tomam decisões em consciência e caso por caso.
3. Então qual é a novidade?
Trata-se de atender à vocação da família em tempos difíceis. Uma abertura a mais à fragilidade.
Atenção ao oitavo capítulo, que trata da misericórdia e do discernimento pastoral diante de situações “irregulares” ou “complexas” (AL 298). Ali se apresenta a necessária gradualidade na pastoral, a importância do discernimento, das normas e das circunstância.
O Papa fala da “lógica da misericórdia pastoral” e pede que se evitem julgamentos que não levem em consideração a complexidade das diversas situações (AL 296). E fala de que cada pessoa encontre a maneira de participar da comunidade eclesial, para que se sinta objeto duma misericórdia imerecida, incondicional e gratuita (AL 297).
4. O que significa discernir?
O Papa quer uma Igreja que escute a pessoa que se sente ferida. Uma Igreja que faça o discernimento em cada situação e evite julgamentos (AL 296). Por isso, não há receitas ou truques. É uma busca humilde e sincera da vontade de Deus.
5. Isso significa que há mudança na doutrina?  
A tradição da Igreja não muda. Ela se propõe a apresentar a verdade e a caridade do Evangelho. Jesus teve misericórdia dos pecadores e fazia refeições com eles.
6. O que o documento fala sobre os homossexuais? 
A Igreja pede respeito e dignidade para eles. Não muda o ensinamento. Desse modo, condena todo tipo de discriminação injusta e condena particularmente toda forma de agressão e violência. Pede atenção às famílias que têm em seu seio pessoas com tendências homossexuais. E o documento confirma o casamento indissolúvel entre um homem e uma mulher (AL 251).

fonte:
http://pt.aleteia.org/2016/04/08/9-chaves-para-entender-o-documento-a-alegria-do-amor-do-papa-francisco/

25 de abril de 2016

On segunda-feira, abril 25, 2016 by Paróquia N. Senhora da Piedade - Coreaú - CE   No comments
24/04 - DOMINGO

08h - Missa Matriz
17h - Intercessão Matriz
17h - Missa Capela Santo Antônio - Araquem
18h - Terço dos Homens - Capela São Francisco Sede
19h - Missa Matriz

26/04 - TERCA- FEIRA
19h - Formação Pastoral Batismo (CP Fr. Leônidas)

27/04 - QUARTA-FEIRA
19h - Missa Bairro Alto do Limoeiro

28/04 - QUINTA-FEIRA
08-16h45 - Adoração Eucarística Matriz
17h - Missa Matriz
19h - Missa Capela N. Sra. de Fatima - Feitoria com Primeira Eucaristia

29/04 - SEXTA -FEIRA
19h - Casamento Capela da Residencia Paroquial (Jesus e Laire)

30/04 - SÁBADO 
19h - Missa Igreja Matriz com o envio das imagens peregrina de Nossa Senhora para a visita às casas durante o mês de Maio.

18 de abril de 2016

On segunda-feira, abril 18, 2016 by Paróquia N. Senhora da Piedade - Coreaú - CE
 

REUNIÃO CONSELHO PASTORAL DA SEDE E MISSIONÁRIOS DA VISITAÇÃO

DIA: 23/04/2016
LOCAL: CENTRO PASTORAL SANTA CLARA DE ASSIS
HORA: 08h

PAUTA: MÊS DE MAIO (peregrinação / campanha)

NÃO DEIXE DE PARTICIPAR, SUA PRESENÇA E MUITO IMPORTANTE.

17 de abril de 2016

On domingo, abril 17, 2016 by Paróquia N. Senhora da Piedade - Coreaú - CE


AGENDA PASTORAL PAROQUIAL
17 A 23/04/2016
19-04 (Terça-feira)   19h -Formação MESC (Centro Pastoral Fr. Leônidas)
                                19h – Louvor e Adoração Gr. Jesus Misericordioso (Cap. S. Francisco Sede)
20-04 (Quarta-feira)19h Celebração no Bairro - Alto do Isaias ( Oratório N. Sra. das Graças)
                                19h Celebração Igreja Matriz
                                19h Missa Comunidade Lameirão
21-04 (Quinta-feira)  08-17h – Adoração Eucarística (Igreja Matriz)
                                17h – Missa Igreja Matriz
                                18h - Reunião Grupo Coroinhas- Centro Pastoral Santa Clara
                                19h – Missa Comunidade Mucambo dos Cristino
22-04 (Sexta-feira)   19h - Missa Capela Santa Luzia – Mosquito
23-04 (Sábado)       08h30 – Reunião CPP Sede
                                17h – Missa Capela São Joaquim – Canto
                                19h – Missa Igreja Matriz

16 de abril de 2016

On sábado, abril 16, 2016 by Paróquia N. Senhora da Piedade - Coreaú - CE



AGENDA PASTORAL - FINAL DE SEMANA (16 A 17/04/2016)


SÁBADO - 16/04/2016

08h30 -  Reunião com Catequistas da Sede
15h     -  Encontro IAM - Sede
17h     -  Missa Capela Sagrada Família - Corredores 
19h     -  Missa Igreja Matriz

DOMINGO - 17/04/2016

08h     - Missa Igreja Matriz
17h     - Intercessão - Igreja Matriz
17h     - Missa Capela Senhora Sant'Ana - Aroeiras
18h     - Terço dos Homens - Capela São Francisco - Sede
19h     - Missa Igreja Matriz






15 de abril de 2016

On sexta-feira, abril 15, 2016 by PeJose



3. A LITURGIA (BEM CELEBRADA) É TRANSMISSORA DA FÉ
 O último aspecto das relações entre liturgia e fé afeta o papel que a liturgia desempenha em ordem à educação da fé dos batizados. Para compreender a importância deste aspecto da liturgia, bastaria recordar o valor que o Oriente cristão sempre soube dar à expressão da fé no culto. Às Igrejas orientais bastou lhes muitas vezes a liturgia para educar religiosa e moralmente os fiéis, sobretudo em tempos de perseguição religiosa. Felizmente, entre nós, os catecismos que começaram a ser preparados para a formação cristã das crianças na paróquia e na escola fazem contínuas referências à liturgia e recolhem e reproduzem textos extraídos dos livros litúrgicos. A liturgia é uma verdadeira mestra da fé, embora com a linguagem e a finalidade que lhe são próprias. Isto tem um nome específico: mistagogia do mistério celebrado. Esta é a razão pela qual ela utiliza antes de mais o simbolismo e a ação, e não procura comunicar conteúdos ou experiências, mas sim incorporar o homem no mistério salvador de Cristo. Por isso nunca se devem confundir o objeto e os fins da catequese e da liturgia. A) A celebração é “fonte primeira e indispensável do espírito cristão” Desde as origens do movimento litúrgico, sobretudo a partir do momento em que o Magistério pontifício começou a ocupar-se dele, a liturgia foi considerada, numa frase de São Pio X, a fonte primeira e indispensável do espírito cristão, mesmo no sentido de que a liturgia contribui de modo decisivo para formar e configurar a vida cristã dos fiéis. O Vaticano II tinha-o muito em conta quando afirmava: “Embora a sagrada Liturgia seja principalmente culto da majestade divina, é também abundante fonte de instrução para o povo fiel. Efetivamente, na Liturgia Deus fala ao seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho. Por seu lado, o povo responde a Deus com o canto e a oração. Mais ainda: as orações dirigidas a Deus pelo sacerdote que preside, em representação de Cristo, à assembléia, são ditas em nome de todo o Povo santo e de todos os que estão presentes. Os próprios sinais visíveis que a sagrada Liturgia utiliza para simbolizar as realidades invisíveis foram escolhidos por Cristo ou pela Igreja. Por isso, não é só quando se faz a leitura «do que foi escrito para nossa instrução» (Rom. 15,4), mas também quando a Igreja reza, canta ou age, que a fé dos presentes é alimentada e os espíritos se elevam a Deus, para se lhe submeterem de modo racional e receberem com mais abundância a sua graça” (SC 33). A seguir o Concílio dá uma série de princípios para a reforma litúrgica de acordo com esta finalidade didáctico-pastoral da liturgia (cf. SC 34-36), entre eles os que se referem à língua. Apesar disso, e isto deve ficar muito claro, a finalidade da liturgia não é direta nem imediatamente ensinar, embora tenha uma grande eficácia didática. A finalidade da liturgia é cultual, mistagógica, atualizadora do desígnio de salvação realizado em Cristo, mistério que ela celebra e torna presente num registro de sinais sensíveis e eficazes. A ação litúrgica é acima de tudo dinâmica, pois põe em jogo todos os mistérios e carismas da comunidade e faz com que se unam e alternem a palavra e o gesto, a contemplação e o movimento, a oração presidencial e o canto comunitário, as atitudes e os símbolos, etc.
Porque não tem uma finalidade primordialmente didática, a liturgia não busca ilustrar a inteligência, nem expor idéias ou raciocínios. Utiliza os recursos da intuição, da poesia, do sentimento, mas procura criar um clima de comunicação entre os membros da assembléia, e entre estes e o mistério celebrado. Portanto, a liturgia tem uma função instrutiva e didática, embora secundária e subsidiária. E isto não só em relação à fé e seus conteúdos, mas também em relação à finalidade de toda a ação pastoral da Igreja que consiste em formar comunidades cristãs. Eis como entende esta função um importante documento da reforma litúrgica, a Instrução sobre as missas para grupos particulares: “Uma das finalidades principais da ação pastoral da Igreja é a de educar os fiéis para se integrarem na comunidade eclesial de modo que cada um se sinta ativamente unido com os Irmãos na comunhão da Igreja, universal ou local, sobretudo nas celebrações litúrgicas. De fato, a assembléia litúrgica, presidida por quem está investido no poder de convocar o Povo de Deus, de o dirigir, de o instruir e santificar, é um sinal e um instrumento da união de todos os homens com o Verbo Encarnado, e, de modo especial, da Igreja com Cristo” (Proêmio). 13 A liturgia é, sem dúvida, o meio mais apto para integrar os fiéis na comunidade eclesial, sinal da Igreja de Cristo. Por isso, iniciar na liturgia é iniciar na vida comunitária e eclesial. Se nos perguntarmos como o consegue, deveremos dizer que isso acontece a partir da realidade misteriosa da liturgia, que está relacionada com a fé, porque a liturgia está situada na dinâmica das leis da graça, isto é, na dimensão transcendente do ex opere operato e do ex opere operantis, dimensão que escapa ao controle do homem. De fato a liturgia, na prática, sempre se dirigiu aos homens apresentando-lhes e oferecendo-lhes tudo aquilo que é, tudo quanto possui, para que estes alcancem a plenitude na medida de Cristo /cf. Ef 4, 13). É certo que hoje, por influxo das ciências humanas, se têm muito em conta a diversidade de idades, as distintas situações, o nível de fé, etc.; e neste sentido produziu-se uma diversificação de assembléias, de celebrações, de livros e materiais para as missas destinadas, por exemplo, às crianças, ao curso escolar, aos adolescentes, aos jovens, etc. A liturgia tem em conta quando se dirige crianças e quando se dirige a adultos, inclusivamente do ponto de vista do desenvolvimento da sua fé. Mas nem por isso recorta por assim dizer o mistério que celebra, quando está perante não adultos. Mais ainda, poderia dizer-se que a liturgia trata o homem ao mesmo tempo como criança e como adulto, porque sabe que a vida cristã é um contínuo tornar-se, um processo sempre a caminho. Isto explica, por exemplo, que ela esteja continuamente a chamar à conversão e, no decurso da celebração, ofereça várias ocasiões para atualizar esta atitude. Mas existem, além disso, outras razões em apoio da eficácia didática da liturgia, que não são de ordem teológica, mas de ordem antropológica e que, antes de serem formuladas pela psicologia e pela pedagogia, já eram tidas em conta pela liturgia, verdadeiro lugar da fé da comunidade cristã. Afirmou-o o Papa Pio XI numa audiência ao P. Capelle, eminente liturgista belga, com uma frase feliz que se tornou clássica: “A liturgia é o órgão mais importante do magistério ordinário da Igreja… Não é a didascália deste ou daquele indivíduo, mas a didascália da Igreja” (A audiência teve lugar no dia 12-12-1935). Daqui se deduz que a celebração litúrgica tem um valor pedagógico inquestionável. Dela se pode afirmar, com verdade, ser lugar da educação da fé, porque aí se forma, se desenvolve, se estrutura e se alimenta a fé. Quer dizer, a liturgia não só é mestra da fé porque a propõe e à sua maneira a apresenta e expõe, mas também porque educa a fé dos fiéis, a fé que estes exprimem nas celebrações litúrgicas. Para levar a cabo esta função didascálica e educadora da fé e da vida cristã, a liturgia dispõe de meios próprios, que basta enumerar: 13 Congregação para o Culto Divino, Instrução sobre as Missas para grupos particulares, em EDREL, n. 2671.
1. A liturgia da Palavra, à qual a antiguidade chamou missa didática ou missa dos catecúmenos, verdadeiro diálogo entre Deus e o seu povo que se compõe de leituras, cantos e orações. 2. Os diferentes lecionários da Missa, do Ofício Divino, dos diversos rituais dos sacramentos, consideravelmente ampliados, enriquecidos com ciclos, temáticas e modos de leitura, a fim de dar cumprimento ao mandato conciliar de abrir ao povo cristão os tesouros bíblicos da Igreja (SC 51). Menção expressa merecem também as leituras patrísticas e hagiográficas da Liturgia das Horas, outro abundantíssimo instrumento doutrinal e testemunhal da fé. 3. A homilia, que faz parte da ação litúrgica e é como que o traço de união entre a Palavra divina anunciada e o sacramento que atualiza a sua eficácia. 4. As admonições ou intervenções do celebrante, diácono ou leitor, que hão-de ser necessariamente breves, para explicar o sentido de alguns ritos, suscitar determinadas atitudes ou sublinhar alguns aspectos. É interessante notar que quando o Vaticano II fala do caráter didático da liturgia o faz citando uma frase do Concílio de Trento (Ses. XXII, cap. 8: DS 1749) ao recomendar que se explicasse ao povo cristão o significado dos ritos da missa justamente no decurso da própria celebração, face à impossibilidade de admitir então o uso das línguas vernáculas na celebração eucarística. 5. As orações e prefácios, ou seja os textos eucológicos, tal como os hinos, responsórios, versículos, antífonas, etc., cada um deles segundo as regras do gênero a que pertencem, são resposta à Palavra de Deus e neles ressoam os temas bíblicos das leituras transformados em louvor, ação de graças, súplica, memória, oferenda, etc. 6. O ano litúrgico ou comemoração anual dos mistérios do Senhor, aos quais se une a memória da Virgem Maria, dos mártires e de todos os outros santos. A esta evocação no círculo do ano se juntam os aniversários da dedicação das igrejas ou de outros acontecimentos sacramentais que marcam a história duma comunidade, e até mesmo dos fiéis em particular. O ritmo do ano litúrgico, a sucessão e a alternância dos tempos e das solenidades, festas, memórias e dias feriais, o valor simbólico das horas santificadas pelo Ofício Divino, etc., fazem com que o mistério em toda a sua amplitude vá penetrando nas mentes e nos corações, que se imite o que se celebra, etc. 7. Por último os sinais litúrgicos, muitos deles inspirados ou tomados da Bíblia e todos ao serviço da expressão da fé, à qual nutrem e alimentam. A) A pedagogia litúrgica da fé Como acabamos de ver, a liturgia contribui para a educação da fé, é uma forma de catequese em ação, tem sempre aspectos didáticos, embora se possa perguntar se existe uma pedagogia litúrgica quando a comunidade celebra o mistério da salvação. Se por pedagogia entendemos a arte de educar, concretamente de conduzir e fazer com que o homem chegue à maturidade e à medida da estatura de Cristo (cf. Ef 4, 13), pode falar-se de pedagogia litúrgica ou da liturgia como fator que possibilita este crescimento e o efetua realmente. Mais ainda, a pedagogia litúrgica acaba por coincidir com a própria pedagogia de Deus posta em relevo na história da salvação e revelada na Sagrada Escritura. Mas não acontece apenas uma coincidência com a pedagogia divina revelada na historia salutis. A liturgia, além disso, colabora decisivamente no êxito deste plano salvífico. Se os sacramentos foram instituídos por Cristo como acontecimentos de salvação, a Igreja vestiu-os e celebrou-os com uma série de sacramentais, ritos, gestos, ações, etc., que contribuem decisivamente para dispor aqueles que os vão receber. É o que ensina Santo Tomás quando diz que os sacramentos concedem a perfeição da santidade, ao passo que os sacramentais, em que o Doutor Angélico inclui todos os sinais litúrgicos, apenas predispõem para a  santidade. A missão deste sinais é dar solenidade aos sacramentos, fomentar a devoção e a reverência dos fiéis, instruir os crentes e impedir a astúcia do diabo (Summa Theol, III, 66,10). Já vimos que a finalidade da liturgia não é direta e imediatamente didática. Por isso é preciso dizer que a pedagogia litúrgica só é educativa na medida em que é salvífica. A liturgia vai, pouco a pouco, configurando a personalidade do cristão à imagem de Cristo, e realiza-o naturalmente a partir da eficácia própria das diversas ações sacramentais, e no âmbito eclesial e comunitário que lhe é próprio. Já dissemos também que a liturgia se inscreve plenamente nas leis da graça. Nela os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens (SC 7); quer dizer, uns, os de instituição divina, ex opere operato e outros, os de instituição eclesiástica, ex opere operantis. Na liturgia entra em jogo não só o opus operantis da pessoa que recebe um sacramento ou que participa na liturgia, mas o opus operantis Ecclesiae. Dizia-o Pio XII na Mediator Dei: “A oração litúrgica, pelo simples fato de ser a oração pública da nobre Esposa de Jesus Cristo, tem uma dignidade superior à da oração privada (n. 37). Portanto, e são palavras do Vaticano II, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC 7). Mas ao lado desta lei suprema da eficácia da liturgia no plano das realidades da graça, há também outras leis de teor antropológico que definem a pedagogia litúrgica. Estas leis manifestam-se na maneira prática e concreta de unir e harmonizar todos os elementos que entram em jogo nas celebrações: desde os enunciados doutrinais às atitudes cultuais, desde as situações dos fiéis até aos objetivos da celebração, desde as exortações e avisos até às orações e aos cantos, etc. Estas leis, que a psicologia social descobriu, costumam enunciar-se assim: – Lei da impossibilidade de que a mente humana se concentre simultaneamente sobre todos os aspectos de uma realidade, neste caso o mistério de Cristo ou mistério da salvação. Isto fez com que a liturgia distribuísse, por assim dizer, este mistério ao longo do ano litúrgico. – Lei da descontinuidade da atenção ou da distribuição das práticas litúrgicas para evitar a fadiga e o cansaço. Daí que no ano litúrgico se sucedam e alternem os tempos fortes e os tempos comuns; que dentro da celebração haja momentos mais intensos seguidos de pausas, podendo determinar-se curvas de atenção e níveis de participação. – Lei da ciclicidade na aprendizagem ou do retorno constante de conceitos e vivências. O ritmo cíclico permite uma maior penetração no mistério de Cristo, um maior aprofundamento das atitudes, um reforço da experiência de fé. Em resumo: a liturgia não é apenas meta de uma formação na fé ou de uma pedagogia da fé, é também ela mesma, por meio da sua própria pedagogia, instrumento e corrente para penetrar no seu âmbito vital e sacramental. A pedagogia litúrgica é litúrgica não só pelo fim, mas também pelo meio. Neste sentido deve dizer-se também que a pedagogia litúrgica não só é uma pedagogia da fé, mas uma pedagogia para a fé, ou seja, em ordem a conseguir uma fé adulta, pessoal, operativa, comunitária, numa palavra, amadurecida. Recordemos uma vez mais que os sacramentos são chamados sacramentos da fé porque por meio de palavras e de sinais exprimem a fé da Igreja, exigem a resposta de fé dos sujeitos e comunicam o dom da fé e a alimentam.
CONCLUSÃO

As relações entre a liturgia e a fé não constituem um aspecto acidental do culto cristão. São exigidas pela própria natureza da liturgia, que é, ao mesmo tempo, obra divina e obra humana, que dizer, ação de Deus e de Jesus Cristo, que conta com a cooperação do homem. A cooperação do homem consiste fundamentalmente na fé, como obséquio da vontade e como aceitação gozosa do dom de salvação que recebe. Por isso a fé está na base da liturgia. E isto num duplo sentido: enquanto expressão do que a Igreja crê e confessa quando celebra a liturgia, e enquanto manifestação das atitudes da comunidade concreta e dos homens que participam na ação litúrgica. Sob o primeiro aspecto a liturgia é expressão da fé da Igreja. Sob o segundo, é expressão da resposta pessoal e comunitária ao mistério de salvação. Apenas no que respeita ao primeiro aspecto se pode falar da norma da oração (lex orandi) em relação direta com a norma da fé (lex credendi). Mas também não pode esquecer-se o segundo aspecto, e para ele se deve encaminhar toda a ação catequética e de pastoral litúrgica, que têm como objetivo a participação ativa, consciente e frutuosa dos fiéis na celebração litúrgica.

fonte: http://www.liturgia.pt/multimedia/pdf/2013_ENPL_02_JulianMartin.pdf